terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Para Além da Curva da Estrada

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro

2 comentários:

Anónimo disse...

Conheces as filosofia do alberto caeiro? Era uma poesia contra o pensamento, anti-ciência e raciocínio cansativo. A sensibilidade do pastor em detrimento do conhecimento. Do aqui e agora, do momento, sem o peso da responsabilidade e da razão! Tudo muito bem, alberto caeiro é apenas um heterónimo de f. pessoa, outros dele dizem o contrário! "a arte salva-nos da verdade" (nietzsche), mas a verdade não deixa de existir, de estar ali, por mais que nos condene não a podemos pôr debaixo do tapete que ela irá sair de lá por tanto passarmos por cima! A poesia nem sempre se aplica directamente à vida! Eu não posso obedecer só aos sentidos, nem aos desejos, seria bom, mas não posso, tenho compromissos, tenho honra, responsabilidades, por melhor que seja o aqui e o agora, tenho que ver mais além, não posso deitar tudo a perder só por um bom momento de dopamina. Não trocaria o amor pela paixão, o esgotável pelo inesgotável! O homem é o único ser dono de si e a consequência do momento, como a cigarra cantadora! «Não sei nem pergunto». [claro que isto é poético, mas achas coerente, se não sabes tens que perguntar, se já sabes não perguntas, é razoável não saberes nem quereres saber? E porque não queres saber? Custa saber? é mais fácil não saber...]
«Porque não posso ver senão a estrada antes da curva» [será que não podes mesmo? Isso é miopia! E medo! A avestruz quando vê o caçador não enterra a cabeça na areia para não o ver? E qual é o destino? E se fugisse com aquelas grandes pernas... Acreditas que a terra é plana? Não estarás já a ver mais longe?].
«De nada me serviria estar olhando para outro lado» [Tens a certeza? Só lês o poema que está no verso e não lês a continuação que está no reverso? Então porque te vês ao espelho?]
«E para aquilo que não vejo» [se até um cego vê mais que aquilo que vê?].
«Importemos-nos apenas com o lugar onde estamos»[não será isto um egocentrismo? Bom no poema mas limitado na vida! Fecho-me no meu território e ponho arame farpado! A humanidade, a nossa história, a nossa riqueza e pobreza não ultrapassa em muito o lugar em que estamos? Não ver não será fechar os olhos? O lugar em que estamos está mais que repisado!
«Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer».[mas há mais beleza em estar aqui e estar em outro lado!]
«Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada»[individualismo, os outros que estão no outro lado que se lixem! Mas podem gostar de mim, podem precisar de mim, eu posso precisar deles, eles são como eu, sentem como eu, não são piores nem melhores que eu, ainda que o sejam, são como são e não posso exclui-los? Caso contrário o muro de berlim ainda estaria em pé, não haveriam pontes nem túneis]. «Por ora só sabemos que lá não estamos».[mas podíamos estar e a vida seria talvez mais rica...]
«Aqui há só a estrada antes da curva»,[isto é minimalismo, redutor e pobre, há muito mais, e é esse mais que dá sentido à estrada que é para ser percorrida! É a própria estrada que me diz, há mais, que me convida, vem, nada melhor que uma estrada para nos dizer precisamente que há mais, que não nos bastam uns binóculos, é essa a essência da estrada, dizer-nos que há sempre mais, caso contrário é um beco, e cuidado com estes, pode-se não poder voltar atrás!]
«Há a estrada sem curva nenhuma» [POIS HÁ! MAS AGORA VAIS TER QUE PAGAR PORTAGENS!].

Paulo Antunes disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.