sexta-feira, 8 de março de 2013

Eu sou mulher...




Ontem li uma frase que dizia: “No dia 8 de Março não dê bombom, nem florzinha, dê respeito!”
Eu digo, pode dar florzinha, pode dar bombom, mas acima de tudo dê respeito, mas dê respeito todos os dias do ano.
PORQUE SER MULHER É MUITO MAIS QUE SER SÓ CORPO, SER MULHER É SER HUMANO.

Numa sociedade onde a mulher AINDA É considerada como ser inferior, como ser mais fraco, onde ainda se pensa que determinados trabalhos não são para mulher, onde ainda existem muitas mulheres a ser despedidas por gravidez, ou não empregadas por possibilidade de gravidez, ainda há uma longa caminhada a percorrer…

Dê respeito – antes de ser mulher, a mulher é um SER HUMANO.
Respeitar não é só dizer que se respeita, é manifestá-lo em acções… é aceitar o outro ser humano com a mesma igualdade de direitos, com a mesma igualdade de pensar, com a mesma igualdade DE SER.

1 comentário:

Ciléa disse...

MULHERES ALGEMADAS

Ao princípio eram ilhas, silenciosas,
espancadas pelos afazeres quotidianos,
submersas nesse continente masculino bronzeado de ordens.
Depois, devagar,
à medida que a vegetação dos seus corpos foi secando,
revoltaram-se com a ausência de luz.
Com delicadeza ergueram suavemente a voz.
O mundo musculado dos que davam ordens inquietou-se.
Tentaram convencê-las que a sua tarefa era cuidar dos filhos,
espancaram-nas, amordaçaram a clorofila que lhes dançava nas veias.
Chamaram-lhes loucas,
arranjaram até atestados para comprovar tal insanidade.
Vedaram às suas águas a literacia, a educação, a cultura.
Dos séculos herdaram a insularidade obediente da tradição,
a gestação descontrolada,
o cárcere doméstico de quatro paredes
rabiscando sem cessar a veloz extinção do pó.
Enganaram a rotina com metáforas que bebiam
nos brinquedos espalhados pelos filhos.
Quando sonharam ter árvores
no pedaço de terra dos seus corpos,
deceparam-lhes os poemas dos ramos,
meteram-lhes grades nas mãos,
porque o trabalho traz independência,
aniquila a submissão.

Tiveram como legado
a biografia desflorestada dos desejos,
a repressão da sensualidade,
a ancoragem no medo.
A tempestade era o único beijo que conheciam
porque os homens
lhe canonizaram o Inverno na alma.
Mas uma ilha sensível sabe esperar,
avança lentamente por entre os espartilhos da liberdade.
Um dia cansadas juntaram-se,
floriu um arquipélago.
De arco-íris em punho,
assoaram a delicadeza ao sangue
e rumaram ao proibido.
Com o fôlego exausto de cativeiro,
incendiaram a voz
porque o tempo sempre foram homens embarcados no céu.
Romperam o exílio do próprio brilho,
afogaram o preconceito
e de têmpera a têmpera açaimaram as nuvens
porque não queriam mais ouvir a neve ladrar.

Hoje, gritam ao abismo imposto,
arregalam os olhos à sombra
e a claridade que sempre tiveram nas cabeças
começa a alumiar o mesmo diâmetro que o sexo oposto.

Mas não se iludam,
o velho continente ainda usa máscara.

(Alberto Pereira)